Exatamente hoje, faz um ano do desaparecimentos dos três meninos de Belford Roxo. Três famílias esperaram por meses pelo retorno de seus fil...
Exatamente hoje, faz um ano do desaparecimentos dos três meninos de Belford Roxo. Três famílias esperaram por meses pelo retorno de seus filhos e descobriram, muito tempo depois, que eles foram mortos por traficantes.
No dia 27 de dezembro do ano passado, Lucas Matheus, Alexandre da Silva e Fernando Henrique, que tinham 9, 11 e 12 anos, respectivamente, desapareceram depois que saíram de casa para jogar futebol na comunidade Castelar, em Belford Roxo.
De acordo com as investigações da DHBF, as crianças foram condenadas por um tribunal do tráfico de drogas por um suposto roubo de passarinho — não se sabe se no mesmo 27 de dezembro ou dias depois.
Eles passaram por uma sessão de tortura tão violenta que um deles acabou morrendo. Para não deixar pistas, os outros dois foram executados. Os corpos foram jogados em um rio e não foram encontrados.
De acordo com a Polícia Civil, um depoimento de uma testemunha e uma acareação entre dois irmãos foram fundamentais para descobrir o que aconteceu com os meninos de Belford Roxo.
O espancamento de um homem inicialmente apontado como autor do crime, ainda em janeiro de 2021, também mostrou à polícia que os próprios traficantes da região poderiam ser os responsáveis pelo sumiço dos meninos.
Oito pessoas foram indiciadas pela tortura contra um inocente, que acabou fugindo da comunidade. O protesto em frente à delegacia de homicídios, que terminou com um ônibus queimado, teria sido arquitetado pelo tráfico, de acordo com as investigações.
Segundo policiais da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), os primeiros cinco meses de investigação foram “desgastantes”, já que havia muita informação sobre o paradeiro dos meninos, porém poucas provas.
Um depoimento em junho, no entanto, começou a mudar o cenário da investigação. Uma testemunha, pela primeira vez, contou aos policiais que presenciou Wiler Castro da Silva, o Stala, comentando com outro traficante que teria matado as crianças porque elas teriam roubado a gaiola de passarinho de um tio.
“Tiraram a vida das crianças, por ordem do Piranha e do Doca”, afirmou a testemunha.
Outro momento fundamental, segundo o delegado Uriel Alcântara, titular da DHBF, foi a acareação feita entre dois irmãos. Um acusava o outro de ter sido responsável por transportar os corpos das três crianças, de carro, até um rio em Belford Roxo, onde os corpos teriam sido jogados.
“Os depoimentos foram importantes para materializar o que a gente já tinha de informação, e a acareação foi importante para ter o convencimento de que um deles falava a verdade”, contou Uriel.
Um dos envolvidos no crime informou à DHBF que estava em um bar da comunidade quando duas motos se aproximaram. Na garupa de uma delas estaria uma das gerentes do tráfico local, Ana Paula da Rosa Costa, a Tia Paula.
Segundo a Polícia Civil, Tia Paula perguntou se alguém sabia dirigir. A testemunha se ofereceu e foi levada na moto até um carro. No veículo estariam os corpos dos meninos.
Ainda segundo o depoimento, o informante guiou até um rio próximo da favela, onde os cadáveres foram jogados.
Uma dificuldade enfrentada durante as investigações, segundo ele, foram as informações falsas sobre o paradeiro dos três meninos. A polícia suspeita que muitas delas eram “plantadas” pelo Comando Vermelho para despistar os agentes.
“Hoje, tenho certeza de que o tráfico fez diversas denúncias falsas. Tanto afirmando que as crianças estavam em outros lugares, para tirar a atenção, quanto também colocando a culpa da milícia, dando metade da história que aconteceu no Castelar, mas dizendo que aquilo aconteceu na feira, e que os milicianos levaram. Mudavam a autoria e o local”, afirmou o delegado.
Responsáveis pelo crime
Foto de muro da comunidade com referências aos traficantes Doca (o urso à esquerda) e Piranha — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Pelo menos cinco pessoas devem ser indiciadas pelas mortes. Uma sexta deve ser indiciada por ocultação de cadáver. Mas, de acordo com informações de inteligência da Polícia Civil, três delas foram executadas. O indiciamento deve ocorrer mesmo assim mesmo, pois ainda não há prova material das mortes.
No dia 9 de dezembro, a Polícia Civil deflagrou uma operação para o cumprimento de 51 mandados de prisão pelo crime de associação para o tráfico de drogas e cinco mandados de prisão pelo crime de homicídio qualificado pela morte dos três meninos.
Quem são os responsáveis, segundo as investigações:
1 - Edgar Alves de Andrade, o Doca, um dos chefes do Comando Vermelho (foragido) - Doca foi implicado no crime após outro traficante, Stala, ter dito que foi autorizado por ele e pelo traficante Piranha a matar as crianças. "Temos uma testemunha que presencia o Stala dizer que mataram a criança em razão do roubo do passarinho. Stala foi perguntado se foi autorizado, e ele disse que Doca e Piranha autorizaram o crime", explicou o o delegado Uriel Alcantara, titular da DHBF.
Doca da Penha é investigado como um dos que deram a ordem para matar as crianças em Belford Roxo — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
2 - Ana Paula da Rosa Costa, a Tia Paula (morta), outra liderança do tráfico local - Segundo testemunhas, teria convocado o motorista do carro que levou os corpos dos meninos para ser jogado em um rio da região. Segundo a polícia, Tia Paula e Stala estavam envolvidos no momento que as crianças foram agredidas e torturadas até uma delas morrer. Teria sido morta a mando de Wilton Carlos Quintanilha, o Abelha.
Apontada como gerente do tráfico, Tia Paula teria sido executada — Foto: Reprodução
3 - Willer Castro da Silva, o Stala, gerente do tráfico do Castelar (morto)- sobrinho do homem que teve os passarinhos roubados, atuava como gerente-geral do tráfico na comunidade do Castelar. Tinha 10 anotações criminais e 3 mandados de prisão pendentes. Ainda segundo a polícia, foi morto a mando de Wilton Carlos Quintanilha, o Abelha. A execução ocorreu provavelmente no dia 25 de agosto ou próximo a esta data. Segundo a polícia, Stala está envolvido com o momento da sessão de tortura das crianças.
Stala, traficante do Castelar, em Belford Roxo, é apontado como suspeito do desaparecimento das crianças — Foto: Portal dos Procurados/Divulgação
4 -José Carlos Prazeres da Silva, o Piranha (morto)- Segundo a polícia, a investigação comprova como Piranha influenciava e determinava os crimes que eram cometidos no Castelar. Foi executado possivelmente no dia 9 de outubro, mais de um mês após perder a liderança do tráfico em algumas comunidades, após decisão da cúpula da facção. Teria sido morto a mando de Wilton Carlos Quintanilha, o Abelha.
Traficante conhecido como Scala ou Piranha do Castelar, em Belford Roxo — Foto: Reprodução
5 - Nome não revelado (preso)
6 - Nome não revelado - Responde em liberdade pela ocultação de cadáveres.
Via G1