Duas moradoras de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, relataram ao RJ1 dificuldades com a alta do preço no gás de cozinha. Dona Eliete não ...
Duas moradoras de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, relataram ao RJ1 dificuldades com a alta do preço no gás de cozinha. Dona Eliete não pôde mais trabalhar; Dona Rosa reativou seu fogão a lenha.
O bujão no município custava R$ 50 em 2020. Agora, é vendido a quase R$ 100.
Dona Rosa ganha a vida vendendo angu à baiana. Sem dinheiro para o botijão, precisou reativar o fogão a lenha para cozinhar.
“Eu dependo do bujão para vender meu angu à baiana e sobreviver. Estando ao relento, o vento acaba com o gás muito rápido, não dura um mês. É uma situação muito difícil”, disse Rosa.
A dona de casa Eiliete de Lima Ferreira também dependia do gás, com o qual fazia o café que vendia na região — e ganhava R$ 50 por dia.
“Eu estou sem trabalhar desde sexta-feira (15). Na madrugada de quinta (14), acabou o gás”, contou.
A despensa dela já tinha esvaziado quando o botijão zerou. A ONG Sim! Eu sou do meio, que já atendia netos dela, ajudou com o que pôde. A cozinha da entidade também está precisando de doações para manter as 500 refeições por semana.
Desde o início do ano, o preço médio do GLP (gás liquefeito de petróleo), conhecido popularmente como gás de cozinha, aos consumidores subiu quase 30%, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), passando de R$ 75,29 no final de 2020 a R$ 96,89 no início de outubro. A alta foi 5 vezes superior à inflação acumulada no período, de 5,67%.
Composição dos preços
Primeiro, é preciso entender como o preço do produto é definido.
Ele é composto pelo preço exercido pela Petrobras nas refinarias, mais tributos federais (PIS/Pasep e Cofins) e estadual (ICMS), além do custo de distribuição e revenda.
Desde março, os tributos federais sobre o gás de cozinha em botijões de 13 kg estão zerados. Mas eles representavam apenas 3% de todo o valor final. Assim, outras influências de alta fizeram com que essa redução fosse muito pouco (ou quase nada) sentida pelos consumidores.
O gás de cozinha é produzido do petróleo – de fato, seu nome é ‘gás liquefeito de petróleo’, ou GLP. E os preços internacionais do petróleo tiveram forte alta no ano, puxados, entre outros motivos, pela recuperação do consumo internacional após o forte declínio do ano anterior, resultado da pandemia da Covid-19.
Desde o início do ano, os preços internacionais do barril de petróleo já subiram mais de 40%. Além da política de preços da Petrobras seguir a variação do mercado externo, parte considerável do GLP consumido no Brasil é importada. Assim, quando os preços sobem lá fora, sobem aqui também.
“O gás, como um bom derivado de petróleo, segue a tendência dos outros combustíveis e acumula uma alta histórica”, diz André Braz.
Câmbio
Com parte importante do preço do gás de cozinha atrelada ao custo lá fora, não surpreende que o real desvalorizado frente ao dólar também pese no bolso do consumidor brasileiro.
“Se a taxa de câmbio é a alta, faz necessariamente com que a gente tem um custo muito maior de importação e isso se reflete no preço final do petróleo e derivados”, explica Juliana Inhasz.
ICMS
O imposto estadual tem grande peso sobre o valor na bomba – e o valor final pago pelo consumidor em ICMS aumentou este ano em alguns estados. A alíquota, no entanto, não teve alteração.
Isso acontece porque o imposto é cobrado em cima de uma estimativa de preço médio pago pelos consumidores. Como o preço do GLP subiu, alguns estados aumentaram também o valor de referência sobre o qual é cobrado esse tributo.
Custos operacionais
O preço final do botijão também tem refletido uma alta nos custos de produção e logística. As distribuidoras do combustível têm pagado mais pelo transporte do produto – e esse custo é repassado aos consumidores.
“Os custos operacionais no geral estão, porque o custo de transporte, no limite, aumentou. Isso faz com que esse gás de cozinha chegue de fato mais caro ao fogão do brasileiro”, diz Juliana.
Via G1