Hoje é o Dia Internacional das Crianças Desaparecidas, e para as mães de Fernando Henrique, de 11 anos, Alexandre, de 10, e Lucas Matheus, d...
Hoje é o Dia Internacional das Crianças Desaparecidas, e para as mães de Fernando Henrique, de 11 anos, Alexandre, de 10, e Lucas Matheus, de 8, é o dia de número 148 desde o sumiço dos meninos de Belford Roxo — mistério que completa quatro longos meses nesta semana. Neste 25 de maio, Rana Jéssica da Silva, Camila Paes da Silva e Tatiana da Conceição Ribeiro ainda mantêm vivas as esperanças de encontrar os garotos com vida e mostram indignação com a história apresentada pela Polícia Civil como motivadora do desaparecimento.
Na semana passada, a corporação realizou uma megaoperação na comunidade do Castellar, na cidade da Baixada, que terminou com a prisão de 17 suspeitos de integrarem um suposto “tribunal do tráfico”, instalado pelos bandidos que atuam na região. Na coletiva após a operação, o titular da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, Uriel Alcântara, disse que a principal linha de investigação da polícia seria de que o tráfico teria sumido com os meninos devido a um deles ter roubado um passarinho de um criminoso.
— Eles torturaram um homem para assumir o crime, e nada foi comprovado. Temos a informação de que traficantes teriam sumido com as crianças por causa de um roubo de passarinho. Sobre o envolvimento da milícia no desaparecimento, não temos nenhuma informação concreta de que eles estejam por trás — disse Alcântara, na semana passada.
A hipótese gerou indignação. Mãe de Alexandre, Rana Jéssica da Silva acusa a polícia de querer retratar o filho como um “pivete” para justificar a narrativa de que eles teriam sido pegos por serem ladrões da região:
— Meus filhos e os outros garotos foram criados com educação em casa, aprenderam a não roubar e nunca mexeram em nada que não pertencia a eles. Como são pretos e pobres, fica fácil rotular eles como pivetes, como ladrõezinhos de rua. Agora nas redes sociais fica todo mundo compartilhando essa mentira e dizendo que eram ladrões. Fazem isso porque a polícia falou e porque é fácil, afinal moram em comunidade. Nós estamos revoltadas e não concordamos, essa história é mentira.
Mãe de Fernando Henrique, a dona de casa Tatiana da Conceição Ribeiro reclamou que a polícia não conversou mais com as famílias, principalmente após a operação realizada na comunidade do Castelar. Ela também mostra revolta com o fato de acusarem o menino de roubar um passarinho e repudia a hipótese:
— Ninguém chamou a gente para depor de novo ou falar sobre essa operação. Eu acho que eles querem botar a culpa nas crianças. Minha casa não é casa de rico, mas sempre teve a comidinha deles. Eu fico muito triste com isso que ficam falando não só do meu, como dos coleguinhas, que são ladrões. Não precisavam roubar passarinho de ninguém. A gente quer justiça a quem fez qualquer coisa com as crianças.
Outra queixa das famílias foi a demora da polícia em fazer o registro do desaparecimento e iniciar a investigação.
— Desde o início, a FIA vem atuando e dando suporte para as famílias neste caso. Nós tomamos o primeiro passo como poder público, confeccionando cartazes e buscando espaço para comunicar. Infelizmente a gente ainda não conseguiu localizá-los — diz Luis Henrique Oliveira, da fundação.
Baixada registra 30% dos sumiços do estado
De acordo com dados do Programa SOS criança, da Fundação para a Infância e a Adolescência (FIA/RJ), 30% dos desaparecimentos de crianças e adolescentes neste ano no estado do Rio ocorreram na Baixada Fluminense. A esperança das famílias é de que os três meninos entrem para as estatísticas do reaparecimento de crianças, afinal dos 72 casos totais, 22 deles na Baixada, 52 foram localizados — cerca de 72%. Já no ano passado, foi registrado no estado um total de 148 desaparecimentos, entre os quais os dos meninos de Belford Roxo. Desses, 124 foram encontrados, um total de aproximadamente 84%.
Implantado em 1996 o Programa SOS Crianças Desaparecidas desenvolve ações voltadas a identificação e localização de crianças e adolescentes desaparecidos. Desde então, já ajudou a localizar 3.252 crianças e adolescentes desaparecidos dos 3.839 casos registrados, o que representa aproximadamente 85% de êxito. No entanto, cerca de 587 sumiços ainda permanecem sem resolução. Com base nos dados fornecidos acerca de algum caso de desaparecimento, é realizada imediatamente a divulgação nas redes sociais da FIA, na rede de parceiros e em outros estados.
De acordo com o Gerente do Programa de Crianças Desaparecidas, Luis Henrique Oliveira, as primeiras horas pós-desaparecimento são fundamentais para fazer a divulgação e aumentar as chances de localização de crianças em situação de desaparecimento:
— O que precisamos para localizar essas crianças é divulgação imediata em redes e meios de comunicação e dando suporte as famílias, garantindo o registro imediato. Temos um bom percentual de casos solucionados, mas infelizmente alguns não foram encontrados.
Via Extra