Criminosos que atuam na comunidade Castelar, em Belford Roxo, a poucos metros da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), são a...
Criminosos que atuam na comunidade Castelar, em Belford Roxo, a poucos metros da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), são alvo de uma operação na manhã desta sexta-feira, dia 21. Os bandidos são investigados pelo desaparecimento de três meninos, ocorrido há quase cinco meses na região. Dezesseis pessoas foram presas.
As equipes encontraram um carro com o porta-malas sujo de sangue. De acordo com o delegado Uriel Alcântara, titular da DHBF, o automóvel é roubado e era usado para transportar desafetos da quadrilha que atua na Castelar. O veículo passará por uma perícia para tentar identificar de quem é o sangue. No alto do morro foi localizada uma área de lazer supostamente usada pelo tráfico, segundo os investigadores. Ao lado do espaço os agentes acharam uma boca de fumo.
De acordo com os investigadores, os bandidos da favela instauraram um “tribunal do tráfico” na região. Nesse tribunal, os chefes da quadrilha decidem se uma pessoa que cometeu ato contra "as normas" criadas pela facção devem ou não ser mortos, como uma espécie de sentença. O grupo também seria responsável por roubos de veículos e cargas em toda a Baixada, de acordo com as investigações.
A DHBF trabalha com várias linhas de investigação para o desaparecimento das crianças — Lucas Matheus, de 8 anos, Alexandre da Silva, de 10, e Fernando Henrique, de 11. No entanto, a principal hipótese é que o tráfico tenha cometido o crime após um possível roubo de passarinho, segundo o delegado Uriel:
— Trabalhamos com várias possibilidades e não descartamos nenhuma linha (de investigação). Com todo o material que temos, denúncias e o material analisado, (suspeitamos que) o tráfico estaria por trás do sumiço das crianças.
Segundo o policial, durante as investigações, traficantes da comunidade torturaram e obrigaram um morador a assumir as mortes. A vítima e a família foram expulsas da favela.
— Eles torturaram um homem para assumir o caso, e nada foi comprovado. Temos a informação de que traficantes teriam sumido com as crianças por causa de um roubo de passarinho. Sobre o envolvimento da milícia no desaparecimento, não temos nenhuma informação concreta de que eles estejam por trás — disse Uriel.
Até agora, cerca de 30 depoimentos estão sobre a mesa do delegado-titular da DHBF. Algumas pessoas prestaram esclarecimentos duas vezes.
Parente de menino sumido acompanha operação
O vendedor Mariano Conceição Ribeiro, de 22 anos, é tio de Fernando Henrique, de 11 anos, um dos desaparecidos. Ele garantiu que conhece todos os presos na operação desta sexta-feira e acredita que não têm envolvimento com o desaparecimento das crianças.
— Eu conheço todos eles e acredito que eles não têm envolvimento. Somos nascidos e criados lá — disse Ribeiro, acrescentando que a família tem peregrinado pelas ruas do bairro em busca das crianças.
A auxiliar de serviços gerais Elizângela André Neves, de 44 anos, é mãe de dois dos presos. Ela garantiu que os filhos não sumiram com as crianças. Mas admitiu que eles já tiveram envolvimento com o tráfico:
— Tenho dois filhos que estão aí. Eles não têm envolvimento com o que aconteceu com as crianças. Todo mundo conhece aquelas crianças e ninguém iria fazer isso com elas.
Vistos pela última vez em dezembro
Lucas Matheus, de 8 anos, Alexandre da Silva, de 10, e Fernando foram vistos pela última vez no dia 27 de dezembro, quando foram para a Feira de Areia Branca, a cerca de três quilômetros de onde eles moravam.
Depois de quatro meses sem nenhum resultado nas investigações da DHBF, o Ministério Público do estado criou uma força-tarefa para tentar identificar o que aconteceu com as crianças.
No começo de março, o MP encontrou imagens de câmeras de segurança que mostraram que os garotos passaram pela Rua Malopia, no bairro vizinho. Essa prova só surgiu mais de dois meses depois do sumiço. A Polícia Civil já havia analisado o material e disse não ter encontrado nada.
Via Extra