A crise da qualidade da água do Grande Rio se aprofunda e vai além do insucesso da Cedae para remover a geosmina. O tratamento usado pela em...
A crise da qualidade da água do Grande Rio se aprofunda e vai além do insucesso da Cedae para remover a geosmina. O tratamento usado pela empresa para supostamente combater a poluição do Rio Guandu não apenas não funcionou, como ainda lançou um novo poluente — o lantânio, um metal tóxico pesado — na água consumida por nove milhões de pessoas do Grande Rio, alertam cientistas.
Segundo dados da própria Cedae, 190 toneladas de Phoslock, uma espécie de argila modificada que contém o lantânio, foram lançadas na lagoa do Guandu desde janeiro do ano passado, quando ocorreu a primeira crise da geosmina. Ao todo, foram seis aplicações. A mais recente no último dia 23, quando 28 toneladas do produto foram pulverizadas por uma embarcação no corpo d’água.
O Phoslock é usado em rios quando há proliferação de cianobactérias. Essas, segundo a Cedae, seriam a origem da geosmina e do 2-mib, que mudaram o gosto e o cheiro da água. O lantânio, presente na fórmula da argila, se associa ao fósforo, encontrado em material orgânico e leva as impurezas para o fundo do mar.
O lantânio é um metal extremamente tóxico. Estudos internacionais o relacionam a problemas no fígado, malformações congênitas no lábio e no palato e danos à fertilidade. Cientistas alertam para a gravidade da crise no estudo “Colapso da qualidade do Rio Guandu”. O artigo é assinado por especialistas da Uerj, da UFRJ, da Uerj e da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf).
— A situação é de colapso. A água do Guandu é de péssima qualidade, e o lançamento do lantânio só agrava potencialmente o problema — salienta um dos autores da pesquisa, Fabiano Thompson, pesquisador do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio da UFRJ e da Coppe.
Contratada pela Cedae, a empresa de consultoria HydroScience, do Rio Grande do Sul, importou o Phoslock da Austrália, o despejou no Rio Guandu e fez a análise do próprio trabalho. Os dados da própria HydroScience mostram que, após duas aplicações, os níveis de fósforo na lagoa do Guandu chegaram a cerca de 0,4 mg/L, muito acima do máximo preconizado pelo Conama, que limita a concentração do elemento em águas doces a 0,050 mg/L.
Segundo a Cedae, a média da concentração de lantânio na água da lagoa foi de 0,0027 mg/L após uso de Phoslock, nas análises de dezembro de 2020 a fevereiro de 2021. Uma concentração “centenas a milhares de vezes inferior às que causam toxicidade a organismos aquáticos”, diz por nota a companhia.
Via O Globo