Além das lembranças da mãe, a trancista Lilian dos Santos Mendonça, de 39 anos, leva consigo a profissão que aprendeu com ela, ainda criança...
Além das lembranças da mãe, a trancista Lilian dos Santos Mendonça, de 39 anos, leva consigo a profissão que aprendeu com ela, ainda criança, e que exerce desde os 22. A morte de Eliane Pereira dos Santos, de 63 anos, no dia 22 de abril do ano passado, foi um dos 3.163 óbitos registrados pelos cartórios de Belford Roxo em 2020. O número é 31,6% maior que no ano anterior, e supera a média histórica de variação anual de mortes no estado que era, até 2019, de 8,6% ao ano, segundo a Associação de Registradores de Pessoas Naturais do Estado do Rio de Janeiro (Arpen-RJ).
— Minha mãe era uma mulher incrível, forte, guerreira e que criou os filhos sozinhas. Ela foi uma grande cabeleireira afro de Belford Roxo — lembra Lilian.
O aumento de número de mortes foi justamente no ano da pandemia. Em Belford Roxo, do início da crise até o último dia 26 de janeiro, foram 392 mortes por Covid, segundo a prefeitura. Apesar de apresentar os sintomas da doença, a causa da morte de Eliane na certidão de óbito constava como desconhecida, afirma a filha:
— Ela ficou dez dias com os sintomas, era hipertensa, diabética. No início, os médicos diziam que era pneumonia. Depois que ela morreu, eu e meu padrasto, que tivemos contato direto com ela, testamos positivo para a doença. Mas, quando ela morreu, era muito no início e ainda não estavam fazendo teste.
Em Duque de Caxias, a média anual de crescimento de registros de óbitos passou de 4% ao ano para 21,6% em 2020. Ainda segundo o levantamento, os óbitos registrados pelos cartórios de Caxias em 2020 totalizaram 9.055, ou seja, 21,6% a mais que no ano anterior. Os números superam a média histórica de variação anual de mortes no estado que era, até 2019, de 4%.
Em Duque de Caxias, Leonardo mostra um retrato do pai, Djalma, vítima da doença em dezembro Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo
Dentro dessa estatística está a morte do servidor público Djalma da Rocha Vaz Neto, de 69 anos, diretor de escola na rede pública de Duque de Caxias. Após 15 dias internado, ele acabou perdendo a batalha para o novo coronavírus, no último dia 14 de dezembro.
— Quando ele testou positivo, logo foi internado e nós entramos numa maratona de oração. Acreditamos até o último instante que ele iria se recuperar. Sempre com um sorriso e uma palavra amiga, era uma pessoa ativa que trabalhou 30 anos dedicado à educação de Duque de Caxias — contou um de seus filhos, o servidor público Leonardo da Rocha Vaz, de 46 anos.
Em Nova Iguaçu, a média anual de crescimento de registros de óbitos passou de 2,5% ao ano para 20% em 2020. Os óbitos registrados pelos cartórios na cidade, em 2020, totalizaram 7.466, 20% a mais que no ano anterior, superando a média histórica de variação anual de mortes no estado que era, até 2019, de 2,5% ao ano, de acordo com a Arpen. Segundo a prefeitura, desde o início da pandemia, o município de Nova Iguaçu registrou 977 mortes por Covid-19, sendo que 54 destas ocorreram de 1º de janeiro a 1º de fevereiro de 2021.
Segundo a Secretaria municipal de Saúde e Defesa Civil de Duque de Caxias, até 1º de fevereiro, o município registrou 1.001 óbitos confirmados de Covid-19. A secretaria informou ainda que, no ano de 2020, foram 908 mortes causadas pela doença. A Prefeitura de Belford Roxo informou que, desde o início da pandemia até 26 de janeiro, foram 392 mortes causadas pela Covid-19. Mas não disse quantos óbito, no total, foram registrados em 2020. Num levantamento feito com Guapimirim, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Queimados, Meriti, Caxias e Nova Iguaçu, Belford Roxo é a cidade com maior alta histórica de óbito, no ano de 2020.
Por Cíntia Cruz
Foto Cléber Júnior
Via Extra