A Polícia Civil do Rio investiga se os dois policiais militares presos por envolvimento na morte de dois jovens em Belford Roxo, na Baixada ...
A Polícia Civil do Rio investiga se os dois policiais militares presos por envolvimento na morte de dois jovens em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, entregaram as vítimas para milicianos. O soldado Custódio e o cabo Ferreira, que eram lotados no 39º BPM (Belford Roxo) já viraram réus pelos assassinatos dos amigos Jhordan Luiz de Oliveira Natividade e Edson de Souza Arguinez, que estavam em uma moto e sumiram após terem sido abordados pelos PMs.
A reportagem teve acesso ao relatório enviado no dia 22 de dezembro pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), responsável pelas investigações do caso, à Justiça. De acordo com o documento, assinado pelo delegado titular da unidade, Uriel Alcântara, um novo inquérito foi aberto para apurar a participação de outras pessoas, além dos PMs, no crime.
No documento, o delegado frisa que há indícios de que “as vítimas foram entregues a terceiros para serem executados, podendo inclusive se tratar de milicianos” e ressalta que uma nova investigação foi aberta. Uma das hipóteses é de que ospoliciais tenham levado os jovens para os milicianos por suspeitas de praticarem roubos na região.
No documento, Uriel Alcântara afirma, ainda, que na madrugada do crime a viatura dos policiais circulou por locais dominados pela milícia, e fora da área de atuação da dupla. Além disso, ressalta que os militares estiveram perto dos próprios endereços, que também estão fora da localidade que deveriam patrulhar.
Uriel aponta também que a análise das imagens de câmeras de segurança que flagraram a abordagem dos PMs aos rapazes acabou revelando que foi encontrado uma arma ou simulacro com os jovens. Além disso, a tia de uma das vítimas declarou, na delegacia, que os rapazes teriam saído para praticar roubos.
O delegado frisa, no relatório, que não há como afirmar que os policiais militares tenham sido os “autores imediatos” das mortes dos amigos, ou seja, não foram os responsáveis pelas execuções em si. No entanto, aponta que há “robustos elementos autoria e materialidade demonstrando que concorreram inequivocamente para o resultado”.
Na denúncia do Ministério Público estadual do Rio, à qual a reportagem também teve acesso, o promotor Diogo Erthal Alves da Costa afirma que os homicídios foram cometidos por motivo torpe, “sendo a execução das vítimas ato de odiosa e abjeta limpeza social, eliminação de indivíduos indesejáveis”. Os PMs foram denunciados por dois homicídios duplamente qualificados (motivo torpe e com emprego de recurso que impossibilitou a defesa das vítimas).
“Após abordagem violenta, tendo sido arrecadada uma arma de fogo ou simulacro, os denunciados Julio Cesar e Jorge Luiz empregaram recurso que impossibilitou a defesa, pois, aproveitando-se do armamento que portavam, das algemas, da viatura e da condição de policiais militares, dominaram as vítimas, conduzindo-as, já subjugadas, para serem executadas”, escreveu o promotor na denúncia.
Diante das suspeitas da participação de outras pessoas no crime, no fim do mês passado, o promotor solicitou ao comando do 39º BPM informações do GPs de todas as viaturas da unidade na madrugada do crime. A PM, no entanto, respondeu que já não possui mais os dados em seu sistema.
Os dois policiais militares permanecem presos no Batalhão Especial Prisional da PM em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Jhorden e Edson sumiram na madrugada de 13 de dezembro do ano passado, após terem sido abordados por Julio Cesar e Custodio no bairro Vila Mercedes, em Belford Roxo. Os rapazes estavam em uma moto.
Câmeras de segurança flagraram o momento da abordagem. Após terem sido parados por um dos policiais, os amigos caem da motocicleta. Em seguida, sofrem algumas agressões, são algemados e colocados dentro da viatura. Uma arma foi encontrada com os rapazes.
Os jovens não foram levados pelos policiais para a delegacia. Eles foram encontrados mortos a tiros no dia seguinte, por familiares, a oito quilômetros do local da abordagem. Os parentes das vítimas conseguiram as imagens de câmeras de segurança que flagraram a abordagem e foram até o 39º BPM.
O comando do batalhão encaminhou os dois PMs à DHBF. Na unidade, em depoimento, eles alegaram que liberaram os jovens cerca de 40 metros após terem colocado ambos na viatura. Os dados do GPs do carro, no entanto, derrubaram a versão dos policiais, demonstrando que eles não pararam no local indicado. Os PMs foram presos em flagrante.
Os dados também revelam que os militares não estiveram no local onde os jovens foram encontrados mortos, mais um indicativo de que não foram os responsáveis por terem executado os rapazes.
Via Extra