O médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), fundador e primeiro pr...
O médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), fundador e primeiro presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), afirmou, em entrevista à BBC, que o Brasil tem capacidade de vacinar, com tranquilidade, toda a população adulta, até o meio do ano, contra a covid-19. O país, no entanto, não se planejou para a compra de vacinas.
"Temos hoje 38 mil unidades básicas de saúde com pelo menos uma sala de vacinação com geladeira especializada em módulos, que conserva a temperaturas de 2 a 8 graus. Na pior das hipóteses, se consegue vacinar 10 pessoas por hora", explicou Vecina Neto, em entrevista à BBC.
"Se vacinarmos 10 pessoas por hora, num dia de trabalho de 8 horas, dá 80 vacinas. Então, eu tenho condição teórica de vacinar 3 milhões de pessoas por dia útil. Isso para 20 dias úteis, tenho condições de vacinar, em um mês, sem fazer muito esforço, 60 milhões de pessoas", conclui.
O Brasil tem um dos mais avançados sistemas públicos de Saúde do mundo, o SUS (Sistema Único de Saúde), que, em pouquíssimo tempo, colocou o país entre os oito com maior número absoluto de vacinados no mundo, mesmo tendo começado a vacinação consideravelmente depois. Em 2020, na campanha de vacinação da gripe, 80 milhões foram vacinados em três meses, sem muito esforço.
Mas, então, por quê não estamos conseguindo avançar na vacinação contra a covid-19 e, pelo contrário, estamos suspendendo a vacinação em diversos Estados, como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador e Cuiabá? Por falta de planejamento do governo, segundo o médico. "Temos condições de fazer. O que falta? Faltam vacinas", lamenta.
"O Chile hoje tem 3 doses de vacina por habitante, só que ele começou a comprar vacina em setembro. Nós não fizemos isso. Não fosse a Fiocruz e o Butantan, não teríamos vacina", diz Vecina Neto. "O Ministério da Saúde foi de uma miopia muito grande em não fazer aposta, em não investir na produção de vacinas antes do registro. Quem fez aposta e correu o risco foram Butantan e Fiocruz, a primeira apostando na CoronaVac e a segunda na Oxford-AstraZeneca", afirmou o sanitarista.
Agora, o Brasil precisa correr atrás do tempo perdido, uma vez que uma boa parte de países já garantiu doses para toda a sua população. Vecina Neto afirma que o ritmo deve melhorar a partir de março, quando está prevista a entrega de mais de 38 milhões de doses de CoronaVac e da vacina de Oxford, mas critica o governo em relação às campanhas de vacinação.
"As pessoas vão vacinar porque são convocadas. Não tinha tido até hoje uma vacina, no âmbito do Programa Nacional de Imunizações, que não tivesse campanha. Não houve campanha de vacinação para a covid-19", lamenta o médico.
Via O Dia