Embora a análise feita pela Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae) tenha apontado níveis de geosmina no limite do aceitável em pontos d...
Embora a análise feita pela Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae) tenha apontado níveis de geosmina no limite do aceitável em pontos de coleta em municípios da Baixada Fluminense, muitos moradores da região têm se queixado da qualidade do abastecimento: ou falta água ou ela chega com gosto e cheiro ruins. E a série histórica de medições feitas pela própria Cedae aponta, realmente, uma piora da qualidade da água do ano passado até agora.
De acordo com portaria do Ministério da Saúde, o nível máximo de gosto e odor de geosmina deve ser 6 (moderado a fraco), e foi esse o índice detectado em medições na Baixada entre os dias 28 de janeiro e 2 de fevereiro. Já no município do Rio, 17 bairros registraram nível 8.
Se pelos critérios do Ministério da Saúde os números na Baixada estão no limite, para moradores como Rosangela Telles Fonseca, de 39 anos, a má qualidade da água é evidente, tornando impossível beber a da torneira.
— Tem umas duas semanas que a água não cai direito aqui. Quando ela vem, o gosto é insuportável. Eu duvido que alguém consiga beber. Para cozinhar e para matar a sede, estou tendo de comprar galões de dez litros de água mineral. São dez por semana! Gasto mais de R$ 70 só com isso. mesmo sem água minha conta está em dia. Paguei a última de R$ 113,10. só que água que é bom eu não tenho direito — disse a moradora da Rua Sebastião Herculano de Matos, no Centro de Nova Iguaçu.
Haila Karine, de 42 anos, e a mãe dela, Aila Bannach, de 63, moram na mesma via.
— O cheiro da água está muito ruim. Dei para meus gatos beberem e eles tiveram infecção intestinal. Eu e minha mão também tivemos diarreia — contou.
Haila e a mãe, Aila, compram água mineral desde que tiveram diarreia após beberem água da torneira Foto: Cléber Júnior / Extra
Em Mesquita, a assistente administrativo Scheiler Iaponire, de 54, também diz ter passado mal por conta da água.
— Tive diarreia por dois dias. Fui ao médico, e ele disse que podia sim ser da água. Estou tomando água de coco e um sachê para a flora intestinal. Há uns 15 dias notei a água com cheiro diferente — disse Scheiler.
Scheiler Iaponire: água está ruim, mas a conta vem regularmente em Mesquita Foto: Cléber Júnior / Extra
Piora da qualidade
Embora as medições da Cedae apontem que o odor e gosto da água na Baixada estão dentro dos padrões recomendados pelo Ministério da Saúde para consumo, é inquestionável a piora da qualidade. Os resultados anteriores a janeiro e fevereiro revelam que houve alteração no produto que chega às torneiras na região. Em outubro e novembro, o gosto e o odor não ultrapassaram o índice 1 em todos os municípios da Baixada. Em dezembro, apenas uma medição detectou nível 3 em um ponto de Nova Iguaçu. Entre os dias 30 de janeiro e 2 de fevereiro, quatro medições revelaram gosto 4 e odor 2 em quatro pontos.
Já em Belford Roxo, o sabor da água chegou a 6, em 31 de janeiro, no bairro Heliópolis. Em Duque de Caxias, no da 2 de fevereiro, o gosto chegou ao índice 6 em uma medição realizada na altura do bairro Olavo Bilac. Na mesma data, Mesquita e Nilópolis tiveram gosto 4 e odor 2 em medições feitas em duas ruas da região central das duas cidades.
Grau 8 em 17 bairros cariocas
No Rio, o monitoramento apontou grau 8 em 17 bairros: Bangu, Cachambi, Campo Grande, Encantado, Engenho Novo, Grajaú, Horto, Jacarepaguá, Jardim Botânico, Olaria, Pavuna, Pilares, Praça Seca, Realengo, Taquara, Tijuca e Vila Isabel. A análise não foi feita em vários locais que acumulam queixas, como Copacabana.
Água é potável, diz Cedae
Em resposta ao EXTRA, a Cedae afirmou que técnicos irão aos endereços informados em até 24 horas. Reforçou que a água, apesar do gosto e do cheiro, é potável e não oferece riscos à saúde de quem a consome.
“Quanto ao relatório citado, as ações adotadas pela Cedae conseguiram diminuir sensivelmente a concentração de geosmina. Parâmetros de gosto e odor estiveram dentro dos padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde durante quase todo o tempo. Ocorre que a geosmina pode ser percebida pelo olfato humano mesmo em concentrações baixíssimas. A geosmina não tem valor de referência na portaria de potabilidade de água por não causar danos à saúde e pode ser consumida sem riscos.
Para reduzir o volume de algas que produzem geosmina/Mib na lagoa próxima à estação, a Companhia estuda alternativas que melhorem os resultados alcançados com as medidas já adotadas (aplicação de argila ionicamente modificada na lagoa próxima à captação e carvão ativado na estação). Além disso, a Cedae assumiu a execução das obras de Proteção da Tomada d'Água da ETA Guandu, com o objetivo de evitar que os rios Ipiranga e Queimados misturem-se ao Rio Guandu antes da captação de água da estação. O projeto está passando por revisão e o edital de licitação deve ser publicado em até seis meses”, continuou a companhia em nota.
Por Cíntia Cruz
Foto Cléber Júnior
Via Extra