BRASIL - Desde o último domingo (17), o Brasil já tem vacinas contra a covid-19. Agora, a forma de vacinação é o problema a ser enfrentado. ...
BRASIL - Desde o último domingo (17), o Brasil já tem vacinas contra a covid-19. Agora, a forma de vacinação é o problema a ser enfrentado. Hoje, não existem datas marcadas para as fases do plano de imunização e muito menos doses suficientes dos imunizantes para atender toda a população.
Consultado pelo UOL, o Ministério da Saúde diz que a expectativa é que a população brasileira esteja vacinada apenas no ano que vem.
Mas, no comunicado enviado, a palavra mais comum é "depende". Não há certeza sobre quando todos os brasileiros estarão imunizados contra o novo coronavírus. Na melhor das hipóteses, a expectativa é isso ocorra no segundo trimestre de 2022.
As incertezas levaram o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski, na última segunda (18), a pedir que o Ministério da Saúde apresente um cronograma para a vacinação.
Plano para 50 milhões
Por enquanto, ainda sem os esclarecimentos solicitados por Lewandowski, o "Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a Covid-19" traz a indicação de três fases, que englobam pouco menos de 50 milhões de pessoas dos grupos de risco; ou seja, cerca de um em cada quatro brasileiros.
Juntas, as três fases têm previsão de durar quatro meses. Apenas após o encerramento delas, começaria a contar a projeção de 12 meses do ministério para vacinar a população fora dos grupos prioritários.
"O Ministério da Saúde estima que, no período de 12 meses, posterior à fase inicial, concluirá a vacinação da população em geral, o que dependerá, concomitantemente, do quantitativo de imunobiológico disponibilizado para uso", disse a pasta em nota ao UOL.
A nota expõe outra preocupação: não há vacina para todo mundo. O Ministério da Saúde prevê para este ano 210 milhões de doses da vacina de Oxford e outros 100 milhões da CoronaVac. Como são necessárias duas doses por pessoa, a soma dessas quantidades não atenderia toda a população, de cerca de 212 milhões de brasileiros.
Sem doses hoje nem para a 1ª fase
A fase 1, que começou nesta semana, tem, a princípio, previsão de duração de cinco semanas. Mas, com a quantidade de doses disponíveis no Brasil, é difícil saber se esse prazo será cumprido. Ao todo, o país possui 6 milhões de doses de vacina contra covid-19. Mas são necessários 31,1 milhões para cumprir o planejamento.
"O prazo para encerrar cada fase depende do quantitativo de doses entregues pelos laboratórios fornecedores e aprovadas pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]", afirma o ministério.
Além dos 6 milhões de doses já distribuídos, há mais 4,8 milhões em território nacional —que a Anvisa deve liberar em breve. O Brasil também aguarda a chegada do IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo), necessário para a produção da CoronaVac e da vacina de Oxford.
Presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Juarez Cunha diz achar "bem provável" que o país entre em 2022 com pessoas ainda sem receber a vacina contra a covid-19. "É muito ambicioso a gente pensar que teremos vacina e teremos insumos suficientes para vacinar toda a população."
"Tomara que isso seja viável, mas os cenários são muito incertos para a gente fazer qualquer previsão. O início da campanha já nos mostra a dificuldade que a gente está tendo inclusive para colocar em prática a estratégia prevista inicialmente." Juarez Cunha, presidente da SBIm
A fase 1 tem como alvo:
- profissionais da área de saúde;
- pessoas de 75 anos ou mais;
- pessoas de 60 anos ou mais que residem em instituições de longa permanência;
- pessoas maiores de 18 anos com deficiência residentes em residências inclusivas;
- população indígena aldeada em terras demarcadas,
- povos e comunidades tradicionais ribeirinhas.
Mas, neste primeiro momento, com apenas 6 milhões de doses, somente trabalhadores da saúde e idosos em instituições serão imunizados, segundo o ministério. Os 3 milhões de pessoas previstos para serem imunizados equivalem a cerca de 1,5% da população brasileira.
Por enquanto, a vacina contra a covid-19 não irá para postos de saúde. O governo de São Paulo lançou um site para pré-cadastro. Os outros grupos da fase 1 serão avisados posteriormente por campanha publicitária sobre quando poderão receber o imunizante.
E depois?
Na fase 2 —ainda sem data de início—, o governo prevê a vacinação de pessoas com idades entre 60 e 74 anos. Para elas, são necessários quase 46,5 milhões de doses.
Mas a fase 2 terá duas etapas. Na primeira, em um período de cinco semanas, a proposta é imunizar 60% dos 22,1 milhões de idosos nessa faixa etária. Na sequência, os 40% restantes receberão a vacina em quatro semanas.
O plano, porém, não indica os critérios que enquadram as pessoas em cada uma das etapas dessa fase.
A fase seguinte é para pessoas que possuem problemas de saúde, como diabetes, hipertensão, câncer, entre outros. Para este grupo, são estimados 26,6 milhões de doses, que deverão ser aplicadas ao longo de cinco semanas.
As fases 2 e 3, porém, não precisam esperar a fase anterior para começar a ser colocada em prática. Outras pessoas, porém, podem entrar nelas, de acordo com o ministério:
- trabalhadores da educação;
- trabalhadores dos demais serviços essenciais (forças de segurança e salvamento e funcionários do sistema de privação de liberdade, dentre outros);
- população privada de liberdade,
- quilombolas (em SP, estão na fase 1)
- pessoas em situação de rua.
"Na medida em que haja aprovação das vacinas, disponibilidade e cronograma de entregas, será possível a avaliação de qual fase esses grupos serão inseridos", disse o ministério no Plano de Vacinação.
12 meses após a fase 3
O restante da população deve receber a imunização contra a covid-19 após as três fases, dentro desse período de 12 meses. Mas o ministério indica que, "à medida em que o laboratório disponibilizar novos lotes de vacina, o Programa Nacional de Imunizações irá dispor de novas grades de distribuição e cronogramas de vacinação dos grupos prioritários".
A SBIm concorda com a estratégia de vacinação proposta pelo Ministério da Saúde. "Esses grupos são os de maior risco e por onde a gente deve começar a vacinar", diz Cunha.
Em informe técnico, enviado na segunda às secretarias estaduais de Saúde, o ministério disse que o início da vacinação tem como objetivo reduzir a mortalidade causada pela covid-19, "bem como a manutenção do funcionamento da força de trabalho dos serviços de saúde e a manutenção do funcionamento dos serviços essenciais".
O ministério espera vacinar 90% da população alvo de cada grupo, "uma vez que é de se esperar que uma pequena parcela apresente contraindicações à vacinação".
Via UOL