BELFORD ROXO - Ser jogador de futebol é o primeiro sonho de muitos meninos brasileiros. Nascido na Taquara, na Zona Oeste do Rio de Ja...
BELFORD ROXO - Ser jogador de futebol é o primeiro sonho de muitos meninos brasileiros. Nascido na Taquara, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Lukian Araújo, hoje com 26 anos, encontrou sua inspiração na Copa de 98, com Ronaldo, o Fenômeno. Lukian teve uma história de vida bem agitada, entre tiroteios na comunidade onde cresceu, na Praça Seca, e em meio a brigas dos pais, atualmente separados. Porém persistiu na carreira de jogador futebol e mora agora na Tailândia, alcançando o melhor desempenho no time, jogando pelo Pattaya United, desde o início do ano.
Sua aproximação com o esporte começou quando entrou para a Escola de Futebol, projeto social da multinacional Bayer que completa 25 anos. Desde 1993, a Escola já recebeu, aproximadamente, 25 mil inscrições para o projeto e formou cerca de 3.750 atletas. Lukian considera que participar do projeto foi essencial para impulsionar a sua carreira e mudar sua história.
“Tive muitas rejeições de clubes no início da minha trajetória. Mas quando conheci a Escola de Futebol, meu foco passou a ser outro. O ambiente onde nasci poderia ter influenciado para me tornar uma outra pessoa, com más inclinações. Mas com a rotina intensa de estudos e treinos, percebi o que eu realmente queria para minha vida”, lembra Lukian.
Pelos jogos da Escola de Futebol que um olheiro identificou a potencialidade do atacante. Lukian passou por alguns clubes do Brasil até que, em 2015, recebeu uma proposta do Bucheon FC, time da segunda divisão da Coréia. Já a decisão de mudar para a Tailândia surgiu no fim do ano passado, para participar da Thai Premier League, principal divisão do futebol no país. Lukian se tornou um dos artilheiros do campeonato, com 18 gols em 32 jogos.
“Estou muito feliz com o meu período na Tailândia. Pensar que tudo começou com a Escola de Futebol é incrível”, conta Lukian, animado.
Atualmente, a Escola de Futebol atende cerca de 200 atletas, entre oito e 20 anos, em seis modalidades: sub-9, pré-mirim, mirim, infantil, juvenil e juniores. Com 15 mil metros quadrados, a Escola possui campo oficial, campo de areia, duas áreas de apoio, vestiários, refeitório, rouparia, salas de massagens e primeiros socorros. Desde 2005, o projeto passou a oferecer oficinas de Redação, Português, Matemática e Informática realizadas em parceria com o Centro Universitário UNIABEU, que funciona como um reforço escolar para os atletas. O único critério para o aluno permanecer no projeto é manter as notas escolares na média.
Entretanto, a Escola não influencia positivamente apenas aqueles que pretendem seguir a carreira no futebol. Jackson Ventura cresceu com sua mãe e dois irmãos no Morro do Rola Bosta, em Belford Roxo. Conheceu a Escola de Futebol em 2006, mas queria ter apenas um passatempo divertido.
“Infelizmente perdi amigos para o tráfico. Mas a Escola de Futebol foi essencial para abrir meus horizontes. Comecei a acreditar em mim mesmo e que eu poderia escolher qualquer carreira que desejasse. Fiquei muito feliz de passar pelo projeto, pois me afastou de problemas da comunidade e certamente me tornou uma pessoa melhor”, conta.
Jackson está concluindo o curso de administração e, com apenas 25 anos, foi promovido a gerente de uma unidade das Casas Bahia. Ele relata a importância social do projeto para meninos de comunidades.
“O projeto realmente transforma a vida das pessoas. São crianças e jovens de comunidades, confusos e indecisos, que possuem acesso limitado à educação e ao lazer e que passam por dificuldades. Lembro que, na minha época, após os treinos, quando recebíamos o lanche, um dos meninos sempre guardava a fruta. No fim do mês, ele entregava um saco cheio para sua mãe e falava ‘pronto, já fiz a feira’. É uma triste realidade que pode ser mudada direta ou indiretamente devido à sensibilidade de pessoas e organizações para desenvolver esse tipo de projeto. Sou muito grato por tudo”, afirma.
Leandro Rocha é formado em Educação Física e professor na Escola há 10 anos, mas começou como aluno, no ano de lançamento do projeto. Ele explica que o objetivo principal é educar e oferecer acesso ao esporte.
“Ingressei como atleta e percebi a evolução da Escola de Futebol, hoje como professor. É gratificante contribuir para mudança da vida de tantas crianças e adolescentes. Queremos formar cidadãos de bem e oferecer oportunidades para aqueles que vivem em áreas de risco”, conclui.