BAIXADA - Sabrina sempre quis aprender francês. Marlos quer voltar a trabalhar. Somi-Vuvu deseja sustentar sua família com a educação...
BAIXADA - Sabrina sempre quis aprender francês. Marlos quer voltar a trabalhar. Somi-Vuvu deseja sustentar sua família com a educação. Ezekiel, fazer valer seu diploma no Brasil. Nas salas de aulas do projeto “Escambo de cultura’’, as disciplinas são tão importantes quanto a troca de experiência e cultura entre alunos e professores. Há um ano e cinco meses, refugiados dão aulas de inglês, francês e espanhol a preço populares em Belford Roxo, Duque de Caxias e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
— Interrompi o curso de Pedagogia porque fugi da guerra. Lá, também dava aulas num projeto. O “Escambo” é uma continuação do que eu fazia. O que ganho ajuda a pagar o aluguel, mas ainda pego uns trabalhos por fora, para sustentar minha família — conta o congolês Somi-Vuvu, de 50 anos, que dá aulas de francês numa sala de aula da Catedral de Santo Antônio, em Caxias. Há nove anos no Brasil, ele já fez bicos como ajudante de pedreiro e de caminhão para manter mulher e quatro filhos.
Falar francês sempre foi o sonho da professora Sabrina Rodrigues Menezes, de 39 anos, desde a adolescência. Mas o preço dos cursos sempre foi um obstáculo. Quando soube do curso, se inscreveu, mesmo morando em Magé:
— É longe, mas o amor falou mais alto. Sábado, acordo às 5h40 para chegar às 8h.
O professor de automação Marlos Antônio de Paula, de 41 anos, busca nas aulas de inglês a qualificação:
— Estou desempregado há dois anos. Todos os manuais da minha áreas são em inglês e um nativo sabe explicar melhor.
Marlon Antônio faz as aulas de inglês para voltar ao mercado de trabalho Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo |
O congolês Ezekiel Pindu, de 35 anos, também deseja voltar ao mercado, e na sua área. Enfermeiro na República Democrática do Congo, ele precisa validar seu diploma no Brasil:
— Custa cerca de R$ 2 mil, mas ainda não consegui. Com o valor do projeto, pago parte do aluguel, mas tenho outros custos — conta o congolês que mora com mulher e três filhos.
— O que mais gosto do projeto é poder ajudar outros refugiados — ressalta.
O valor da mensalidade é dividido entre o salário dos professores, a compra de material didático e famílias de refugiados. Os oito professores são da República Democrática do Congo, Honduras, Colômbia, Paquistão e Gâmbia.
— Pensamos num projeto de geração de renda e socialização aos refugiados aliado à carência de cursos com preços populares — explica o fundador do projeto Márcio Dias.
O projeto tem apoio das dioceses de Duque de Caxias e de Nova Iguaçu. Inscrições pelo www.escambodecultura.org ou 99654-3785.
Via Extra
por Cíntia Cruz