BAIXADA FLUMINENSE - Nem a chuva foi empecilho para os corações calorosos que, na madrugada de sábado e da véspera do Natal, foram p...
BAIXADA FLUMINENSE - Nem a chuva foi empecilho para os corações calorosos que, na madrugada de sábado e da véspera do Natal, foram para as ruas do Centro da cidade distribuir alimentos, roupas e muito amor. Um dos grupos, na Avenida Presidente Vargas, que doava entre outras coisas refeições em quentinhas, tinha saído de Baixada Fluminense, onde fica a igreja evangélica Vale das Bênçãos, para repetir o périplo que já faz há 16 anos.
— Dessa vez, trouxemos mais material, porque aumentou bastante a quantidade de moradores de rua, por conta do desemprego. Há até profissionais com formação. Muitos, por morarem longe, preferem dormir aqui do que voltar para casa. O nosso propósito é tentar dar um mínimo de conforto, um carinho para eles — afirmou Vicente Bispo, de 46 anos.
O time de Belford Roxo, além de roupas, levou para o Centro cerca de cem refeições. A preparação dos pratos, todos embalados antes da entrega, começou às 7h daquele mesmo dia.
Quem participou pôde entender o verdadeiro sentido de “fazer a diferença” na vida das pessoas. Aos 48 anos, o carregador Rogério Cardoso Leal foi um dos que, além da refeição, ganhou uma camisa de mangas longas. Ele contou que está na rua desde o fim de outubro, porque não arruma emprego. Antes, ele morava num pequeno imóvel na comunidade Nova Holanda, no Complexo da Maré. Seus problemas começaram após sofrer um acidente doméstico, em que teve queimaduras de terceiro grau no braço e na perna direita. Depois de receber alta do Hospital Pedro II, em Santa Cruz, onde esteve internado, o proprietário do quarto onde morava havia morrido e não foi possível negociar sua permanência no endereço com os parentes do antigo dono.
— Foi um acidente enquanto eu estava cozinhando. De repente, pegou fogo em tudo. Quase morri — contou ele, que passou dez dias em estado grave no CTI.
Na esquina das avenidas Almirante Barroso e Graça Aranha, fiéis de outra igreja carregavam 500 refeições para doar a quem estava ao relento. A mobilização do grupo foi possível graças às redes sociais.
— A ideia é cear com eles. A nossa experiência pelas calçadas mostra que a galera que está aqui desse jeito, muitas vezes, teve problemas de relacionamento lá atrás com o pai, a mãe, a esposa ou o filho. Só de estar aqui e poder proporcionar para eles esse mínimo já é muita coisa — explicou o pastor Marcelo Bullé, de 38 anos.
Em frente ao Hospital Municipal Souza Aguiar, moradores de rua também receberam uma comida quentinha, doada por duas igrejas evangélicas da Gardênia Azul, na Zona Oeste.
Via O Globo