BELFORD ROXO - A expressão no rosto é de felicidade e alívio por estar em casa novamente, ao lado da família e dos amigos. Após 42 dia...
BELFORD ROXO - A expressão no rosto é de felicidade e alívio por estar em casa novamente, ao lado da família e dos amigos. Após 42 dias preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, Paulo Sérgio Bernardo de Souza, de 20 anos, ganhou a liberdade na noite de anteontem. Morador de Belford Roxo, ele foi acusado de matar o policial militar Alyson Leonardo Egídio Alves, em Meriti, no dia 1º de outubro. Um vídeo que mostra Paulo Sérgio trabalhando no momento do crime comprovou a sua inocência.
— Foram dias horríveis, tive muito medo. A única coisa que pedia a Deus era para me tirar dali. Não tem nada pior do que você ser preso por um crime que não cometeu — desabafa Serginho, como é chamado.
Em casa, o jovem lembrou os momentos difíceis que passou.
— No dia em que fui preso, estava indo a Madureira comprar mercadoria para o meu trabalho quando um PM me abordou e falou que eu era muito parecido com o suspeito — lembra: — Eu nem sabia de quem ele estava falando. Na delegacia, fui reconhecido por parentes da vítima e entrei em desespero.
Vendedor de suco de laranja e doces em um sinal de trânsito no Centro de Belford Roxo, Serginho ainda não sabe quando a sua vida voltará ao normal.
— Ele está com medo de andar na rua. Foi um trauma que vai demorar a passar. O vídeo que conseguimos foi essencial. Eu sempre soube que ele não tinha feito nada — diz a sogra, Elizabeth Gonçalves, de 45 anos.
A mãe dele, Ana Paula Fernandes Souza, de 37, quer que a justiça seja feita.
— Vou entrar com uma ação contra a mulher do PM, que acusou meu filho. O que fizeram foi uma covardia e um constrangimento sem tamanho — diz: — Só eu sei o que passei. Mal conseguia dormir, vivia à base de remédios. Não consegui vê-lo nem um dia.
A Polícia Civil informou que Paulo Sérgio foi preso após testemunhas o reconhecerem como autor do crime. A perícia confirmou que o vídeo era autêntico e a Justiça o libertou, mas o processo ainda tramita e ele vai aguardar novo julgamento. A família do PM Alyson não foi encontrada para comentar.
‘Não sabia se era dia ou noite’
Nunca imaginei que fosse passar por isso na minha vida. Durante todos esses 42 dias preso, eu conversava apenas com Deus. Ficava sozinho e rezava para que aquele pesadelo acabasse logo. Ficava numa cela com mais nove pessoas e, durante 12 dias, dormi no chão. Não sabia se era dia ou noite e imaginava os horários de acordo com a comida que a gente recebia. Nunca saía da cela e fiquei com a mesma roupa todos os dias. Lavava e colocava de novo. Era horrível, não tinha desodorante e ficava um cheiro muito ruim. Quero apagar isso da minha memória.
Jovem participa de reconstituição
No dia 1º de outubro, o soldado Alyson Leonardo Egídio Alves, de 27 anos, levou três tiros enquanto se arrumava para um casamento em um salão de beleza de Coelho da Rocha, Meriti. Ele foi identificado como policial pelos bandidos que assaltariam a loja. O PM era lotado na UPP do Salgueiro, na Zona Norte do Rio. Paulo Sérgio foi preso por PMs na estação de trem de Coelho da Rocha, em 7 de outubro. No dia 22, foi feita uma reconstituição no local do assassinato que, assim como o vídeo, mostrou que Paulo Sérgio não poderia ter participado da ação que levou o PM à morte.
Via Extra - Mais Baixada
Por Lígia Modena