BELFORD ROXO - Foi na sala do Conselho Tutelar que um adolescente peruano de 17 anos viu a irmã depois de cinco meses. Pela internet,...
Quando deixou seu país, ele não avisou a ninguém. Há duas semanas, morava com o namorado numa quitinete no bairro Shangrilá, em Belford Roxo. Após uma briga por ciúme, viu-se perdido no Brasil, sozinho e com algumas moedas no bolso. Assustado e confuso, foi
levado para o Conselho Tutelar, onde está abrigado até que a Policia Federal providencie a documentação necessária para manda-lo de Volta ao Peru.
-Estou feliz por voltar ao meu país e reencontrar minha família, mas triste por ter que deixar o Júnior - afirmou o jovem peruano, aliviado, na sede da Polícia Federal, em Nova Iguaçu.
Júnior é o operador de telemarketing Clério de Oliveira, de 21 anos. ele conta que, em março, inscreveu-se numa página da internet de relacionamentos gay. No dia seguinte, já se correspondia com o adolescente peruano.
- Juntei dinheiro, e, em junho, viajei para o Peru. Consegui um emprego de garçom e aluguei uma casa em San Miguel. Ele deixou a família e a faculdade para passar uma semana comigo - contou o namorado.
Três meses depois, os dois decidiram vir para a Brasil. Cruzaram a fronteira ilegalmente: da cidade de Iñampari, no Peru, para Assis Brasil,no Acre. Contavam apenas com o equivalente a R$ 30. De carona em carona, pedindo dinheiro e comida, chegaram à Baixada Fluminense em um mês. Uma travessia considerada arriscada.
- Na cidade de Puerto Maldonado, já próximo à fronteira com o Brasil, fomos assaltados. Dois homens colocaram suas armas em nossas cabeças. Ficamos sem documentos, mas, assim mesmo, decidimos seguir viagem -contou Clério.
Em Rondônia numa fábrica de arroz da cidade de JiParaná, trabalharam por duas semanas. Conseguiram comprar passagens de Ônibus para São Paulo e, após pediram dinheiro num sinal próximo à rodoviária: vieram para o Rio de Janeiro.
Na Polícia Federal, reconciliação
Embora digam que sentem amor um pelo outro, as brigas sempre foram constantes. Foi na última delas, há duas semanas, que o jovem estrangeiro decidiu procurar ajuda para sair do país e voltar para o Peru. A discórdia, que fez com que Clério colocasse os pertences do jovem do lado de fora da quitinete, foi motivada por ciúmes.
- Eu coloquei um short, e ele não gostou. Disse que não queria que eu mostrasse as pernas na rua - contou o adolescente peruano.
Naquele dia, ele iria trabalhar distribuindo panfletos na Vila da Penha, na Zona Norte do Rio. Após a discussão, foi caminhando de Shangrilá, em Belford Roxo, até Nova Iguaçu. Já à noite, e com medo, ligou para Clério, que foi buscá-lo.
Na quinta-feira passada, no Conselho Tutelar, o adolescente dizia que não queria mais nada com o namorado brasileiro. Decisão que foi desfeita no dia seguinte, quando fizeram as pazes na sede da Polícia Federal (PF).
- Depois de tudo o que passamos juntos você pensa que não vou mais te amar? Muito pelo contrário - disse o estrangeiro para Clério, que retribuiu o afeto.
-Vou juntar dinheiro de novo e vou lá te ver. Daqui a pouco estaremos juntos.
Via Extra- Mais Baixada
Por Bernardo Costa