BELFORD ROXO - Conhecida como “o mal do século” desde o período romântico, há cerca de 200 anos, a tuberculose é, na verdade, o mal de mu...
BELFORD ROXO - Conhecida como “o mal do século” desde o período romântico, há cerca de 200 anos, a tuberculose é, na verdade, o mal de muitos séculos. Uma das mais antigas doenças reconhecidas pelo homem, ainda hoje, em pleno segundo milênio, a doença mata, pelo menos, um milhão de pessoas por ano no mundo. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil é o 17º país com maior incidência de tuberculose entre os 22 países de alta carga. O panorama da doença no Rio é o mais preocupante. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), o Rio apresenta a maior incidência da doença. De acordo com dados preliminares, o estado registrou 14.039 casos de tuberculose em 2012 — em torno de 15% do total do país. E 52,94% dos registros se concentram na Cidade Maravilhosa. Por quê?
Doença associada aos centros urbanos, a tuberculose se relaciona à geografia e às condições de vida das cidades. O adensamento populacional e fatores relacionados à infraestrutura tornam os habitantes dos grandes centros urbanos mais vulneráveis à doença.
— Tuberculose é uma doença urbana. No estado do Rio, a maior parte dos casos se concentra na capital porque, além de apresentar densidade demográfica alta, a população vive aglomerada em muitos pontos da cidade. Isso aumenta o contato entre as pessoas e, consequentemente, facilita a transmissão da doença — explica a coordenadora do Programa de Tuberculose da SES, a médica Ana Alice Pereira.
Pessoas que vivem em condições desfavoráveis de alimentação e moradia se tornam alvo mais fácil da doença. No Rio, dos mais de seis milhões de habitantes do município, 22%, ou seja, 1,4 milhão vive em comunidades, segundo dados do Censo de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nas áreas mais carentes, o contato entre as pessoas pode ser ainda maior. Em muitas das moradias, as famílias dormem e dividem o mesmo ambiente ao longo do dia. Além disso, a proximidade existente entre as casas impede a circulação e renovação do ar e até a penetração do sol. E os raios solares e a ventilação do ambiente são fundamentais para eliminar o bacilo de Koch — capaz de permanecer no ar por algumas horas após uma pessoa doente tossir.
Casos e densidade demográfica - O município do Rio registrou, em 2012, 7.433 casos da doença — 52,94% do total do estado. Isso que dizer que em cada 100 mil habitantes do município do Rio, 91,2 adoeceram de tuberculose, pela primeira vez. No estado, a taxa de incidência é de 68,7 para cada 100 mil habitantes. A capital está inserida na Região Metropolitana I do Estado, que reúne também 11 municípios da Baixada Fluminense e concentra a maior incidência de tuberculose no Estado: foram 10.964 registros em 2012 — o equivalente a 78,09% do total de 14.039 casos fluminenses.
Duque de Caxias (Região Metropolitana I – RMI) é o segundo município do estado em número de total de casos registrados – 977 casos -, com uma taxa de incidência de 81,9 por cada 100 mil habitantes. Em seguida, os registros apontam para Nova Iguaçu, com 729 casos e incidência de 75,0 por 100 mil habitantes; e São João de Meriti, com 531 casos e incidência de 93,0 por 100 mil habitantes. Além dos já citados, integram a RM I os seguintes municípios: Belford Roxo, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Queimados e Seropédica.
A Região Metropolitana II reúne a segunda maior quantidade de casos do estado — 1.199 ou 8,54% deles, sendo São Gonçalo o 4º município do estado em número de casos registrados. A RM II é composta por Itaboraí, Maricá, Niterói, Rio Bonito, São Gonçalo, Silva Jardim e Tanguá.
Não por acaso o Rio é o estado que apresenta as maiores taxas de incidência da doença. Segundo o censo de 2010 realizado pelo IBGE, o estado concentra 96% da população em áreas urbanas e tem densidade demográfica de 368 habitantes por km², quando no Brasil a média é de 22,4 habitantes por km². A mesma lógica se repete dentro do estado. As duas áreas metropolitanas (RM I e RM II) de maior incidência da doença reúnem os municípios que apresentam as maiores taxas de concentração demográfica do Rio. De acordo com dados de 2011 do IBGE, a capital conta com 5.296,62 habitantes por km²; Duque de Caxias apresenta 1.840,08 habitantes por km²; Nova Iguaçu, 1.533,68 e São João de Meriti, 13.125,11.
— Em Nova Iguaçu, por exemplo, metade da extensão territorial é ocupada pela Mata Atlântica. As pessoas se aglomeram no restante do território, o que significa que a concentração é maior ainda, facilitando a transmissão da doença — comenta Ana Alice.
Das notificações realizadas no Estado do Rio (14.039) em 2012, 11.149 ou 79, 41% se referem a casos novos da doença. A maior parte dos casos novos (77,29%) se concentra na RM I (8.617). Só o município do Rio registrou 5.831 casos novos, em 2012 — o equivalente a 78,44% dos 7.433 registros da capital.
— A doença está muito relacionada à concentração demográfica. A densidade intradomiciliar na capital é alta e a geografia dificulta a entrada de sol e ar — diz o superintendente de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da SES, Alexandre Chieppe.
Tratamento e sintomas - Deixar o atual quadro para trás depende de fatores sociais e da qualidade do atendimento na rede de atenção básica. A SES orienta o trabalho realizado nos municípios pelo Programa de Controle da Tuberculose. Há pacientes que entram para o cadastro do Bolsa Família, recebem cestas básicas do município e ganham café da manhã e almoço no restaurante popular local. O Governo do Estado concede Vale Social para que os pacientes obtenham gratuidade na rede de transportes e não tenham motivos para deixar de ir à unidade de saúde se tratar.
— Melhorar as condições de moradias é uma perspectiva para reduzir a quantidade de casos detuberculose. Mas também há o aspecto do atendimento. O paciente precisa ser acolhido, adequadamente, pela rede de atenção básica para aderir ao tratamento que dura no mínimo seis meses — diz Ana Alice.
O principal sintoma da tuberculose é a tosse, com ou sem catarro, por mais de três semanas. Quem apresenta esse quadro deve procurar uma unidade de saúde para fazer o diagnóstico. O tratamento é oferecido gratuitamente pelo SUS.
Preconceito e controle - A tuberculose ainda é uma doença que envolve preconceito e gera muito sofrimento. O doente se sente fraco, sem apetite, perde peso e tem dificuldade para realizar qualquer esforço físico. Muitos sequer conseguem trabalhar. O zagueiro e capitão da seleção brasileira, Thiago Silva, conhece bem os efeitos da doença. Em 2004, quando jogava para o Porto, Thiago teve problemas respiratórios que se agravaram com o frio europeu e o impediram de ter boas oportunidades no time português. Emprestado ao Dínamo, em Moscou, na Rússia, onde o frio é ainda mais intenso, a situação se agravou.
— Os problemas respiratórios se transformaram em uma tuberculose que quase tirou a minha vida. Fiquei quatro meses internado e sem poder receber nenhuma visita de familiares ou amigos brasileiros. Estava em um lugar onde ninguém entendia minha língua e eu muito menos entendia a língua deles. O que mais me preocupava era a falta de informação. O paciente precisa saber em que estágio está a doença até para poder se acalmar ou se dedicar ainda mais ao tratamento. Não foi fácil. A tuberculose ainda ataca muitas pessoas em todo o mundo. Mas consegui sair dessa ainda mais forte psicologicamente e hoje tenho certeza que toda a minha confiança dentro de campo vem um pouco da lembrança da luta que travei contra a doença — conta Thiago.
A tuberculose costuma atingir pessoas em idade produtiva — dos 20 aos 49 anos. A taxa de mortalidade pela doença no Rio de Janeiro tem apresentado queda na última década, mas ainda é a maior do Brasil. Nos últimos cinco anos, os números variaram de 800 a 900 óbitos por ano. Trata-se da quarta causa de morte por doenças infecciosas no estado.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, para considerar a tuberculose uma doença sob controle, a taxa de incidência não deve ultrapassar 5 casos em cada 100 mil habitantes — atualmente é de 68,7 para cada 100 mil habitantes, no Estado do Rio de Janeiro. Já para considerá-la eliminada, a taxa deve ser igual ou menor de 1 caso para cada 100 mil habitantes.
Doença associada aos centros urbanos, a tuberculose se relaciona à geografia e às condições de vida das cidades. O adensamento populacional e fatores relacionados à infraestrutura tornam os habitantes dos grandes centros urbanos mais vulneráveis à doença.
— Tuberculose é uma doença urbana. No estado do Rio, a maior parte dos casos se concentra na capital porque, além de apresentar densidade demográfica alta, a população vive aglomerada em muitos pontos da cidade. Isso aumenta o contato entre as pessoas e, consequentemente, facilita a transmissão da doença — explica a coordenadora do Programa de Tuberculose da SES, a médica Ana Alice Pereira.
Pessoas que vivem em condições desfavoráveis de alimentação e moradia se tornam alvo mais fácil da doença. No Rio, dos mais de seis milhões de habitantes do município, 22%, ou seja, 1,4 milhão vive em comunidades, segundo dados do Censo de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nas áreas mais carentes, o contato entre as pessoas pode ser ainda maior. Em muitas das moradias, as famílias dormem e dividem o mesmo ambiente ao longo do dia. Além disso, a proximidade existente entre as casas impede a circulação e renovação do ar e até a penetração do sol. E os raios solares e a ventilação do ambiente são fundamentais para eliminar o bacilo de Koch — capaz de permanecer no ar por algumas horas após uma pessoa doente tossir.
Casos e densidade demográfica - O município do Rio registrou, em 2012, 7.433 casos da doença — 52,94% do total do estado. Isso que dizer que em cada 100 mil habitantes do município do Rio, 91,2 adoeceram de tuberculose, pela primeira vez. No estado, a taxa de incidência é de 68,7 para cada 100 mil habitantes. A capital está inserida na Região Metropolitana I do Estado, que reúne também 11 municípios da Baixada Fluminense e concentra a maior incidência de tuberculose no Estado: foram 10.964 registros em 2012 — o equivalente a 78,09% do total de 14.039 casos fluminenses.
Duque de Caxias (Região Metropolitana I – RMI) é o segundo município do estado em número de total de casos registrados – 977 casos -, com uma taxa de incidência de 81,9 por cada 100 mil habitantes. Em seguida, os registros apontam para Nova Iguaçu, com 729 casos e incidência de 75,0 por 100 mil habitantes; e São João de Meriti, com 531 casos e incidência de 93,0 por 100 mil habitantes. Além dos já citados, integram a RM I os seguintes municípios: Belford Roxo, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Queimados e Seropédica.
A Região Metropolitana II reúne a segunda maior quantidade de casos do estado — 1.199 ou 8,54% deles, sendo São Gonçalo o 4º município do estado em número de casos registrados. A RM II é composta por Itaboraí, Maricá, Niterói, Rio Bonito, São Gonçalo, Silva Jardim e Tanguá.
Não por acaso o Rio é o estado que apresenta as maiores taxas de incidência da doença. Segundo o censo de 2010 realizado pelo IBGE, o estado concentra 96% da população em áreas urbanas e tem densidade demográfica de 368 habitantes por km², quando no Brasil a média é de 22,4 habitantes por km². A mesma lógica se repete dentro do estado. As duas áreas metropolitanas (RM I e RM II) de maior incidência da doença reúnem os municípios que apresentam as maiores taxas de concentração demográfica do Rio. De acordo com dados de 2011 do IBGE, a capital conta com 5.296,62 habitantes por km²; Duque de Caxias apresenta 1.840,08 habitantes por km²; Nova Iguaçu, 1.533,68 e São João de Meriti, 13.125,11.
— Em Nova Iguaçu, por exemplo, metade da extensão territorial é ocupada pela Mata Atlântica. As pessoas se aglomeram no restante do território, o que significa que a concentração é maior ainda, facilitando a transmissão da doença — comenta Ana Alice.
Das notificações realizadas no Estado do Rio (14.039) em 2012, 11.149 ou 79, 41% se referem a casos novos da doença. A maior parte dos casos novos (77,29%) se concentra na RM I (8.617). Só o município do Rio registrou 5.831 casos novos, em 2012 — o equivalente a 78,44% dos 7.433 registros da capital.
— A doença está muito relacionada à concentração demográfica. A densidade intradomiciliar na capital é alta e a geografia dificulta a entrada de sol e ar — diz o superintendente de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da SES, Alexandre Chieppe.
Tratamento e sintomas - Deixar o atual quadro para trás depende de fatores sociais e da qualidade do atendimento na rede de atenção básica. A SES orienta o trabalho realizado nos municípios pelo Programa de Controle da Tuberculose. Há pacientes que entram para o cadastro do Bolsa Família, recebem cestas básicas do município e ganham café da manhã e almoço no restaurante popular local. O Governo do Estado concede Vale Social para que os pacientes obtenham gratuidade na rede de transportes e não tenham motivos para deixar de ir à unidade de saúde se tratar.
— Melhorar as condições de moradias é uma perspectiva para reduzir a quantidade de casos detuberculose. Mas também há o aspecto do atendimento. O paciente precisa ser acolhido, adequadamente, pela rede de atenção básica para aderir ao tratamento que dura no mínimo seis meses — diz Ana Alice.
O principal sintoma da tuberculose é a tosse, com ou sem catarro, por mais de três semanas. Quem apresenta esse quadro deve procurar uma unidade de saúde para fazer o diagnóstico. O tratamento é oferecido gratuitamente pelo SUS.
Preconceito e controle - A tuberculose ainda é uma doença que envolve preconceito e gera muito sofrimento. O doente se sente fraco, sem apetite, perde peso e tem dificuldade para realizar qualquer esforço físico. Muitos sequer conseguem trabalhar. O zagueiro e capitão da seleção brasileira, Thiago Silva, conhece bem os efeitos da doença. Em 2004, quando jogava para o Porto, Thiago teve problemas respiratórios que se agravaram com o frio europeu e o impediram de ter boas oportunidades no time português. Emprestado ao Dínamo, em Moscou, na Rússia, onde o frio é ainda mais intenso, a situação se agravou.
— Os problemas respiratórios se transformaram em uma tuberculose que quase tirou a minha vida. Fiquei quatro meses internado e sem poder receber nenhuma visita de familiares ou amigos brasileiros. Estava em um lugar onde ninguém entendia minha língua e eu muito menos entendia a língua deles. O que mais me preocupava era a falta de informação. O paciente precisa saber em que estágio está a doença até para poder se acalmar ou se dedicar ainda mais ao tratamento. Não foi fácil. A tuberculose ainda ataca muitas pessoas em todo o mundo. Mas consegui sair dessa ainda mais forte psicologicamente e hoje tenho certeza que toda a minha confiança dentro de campo vem um pouco da lembrança da luta que travei contra a doença — conta Thiago.
A tuberculose costuma atingir pessoas em idade produtiva — dos 20 aos 49 anos. A taxa de mortalidade pela doença no Rio de Janeiro tem apresentado queda na última década, mas ainda é a maior do Brasil. Nos últimos cinco anos, os números variaram de 800 a 900 óbitos por ano. Trata-se da quarta causa de morte por doenças infecciosas no estado.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, para considerar a tuberculose uma doença sob controle, a taxa de incidência não deve ultrapassar 5 casos em cada 100 mil habitantes — atualmente é de 68,7 para cada 100 mil habitantes, no Estado do Rio de Janeiro. Já para considerá-la eliminada, a taxa deve ser igual ou menor de 1 caso para cada 100 mil habitantes.
(*) Com informações da SES/RJ