“Eu teria vergonha de ser enterrada aqui", diz vizinha do Cemitério de B. Roxo BELFORD ROXO - Assim que o carro da reportagem parou ...
“Eu teria vergonha de ser enterrada aqui", diz vizinha do Cemitério de B. Roxo
BELFORD ROXO - Assim que o carro da reportagem parou uma moradora disse: "Graças à Deus veio alguém aqui". A mulher, que não quis se identificar mostrou diversas irregularidades no local. Nos fundos do cemitério, as gavetas onde são colocados os caixões, estão quebradas e um muro em que elas ficam encostadas está cheio de infiltrações e rachaduras. "Nós conseguimos ouvir o barulho dos corpos estourando. Em dia de sol quente a salmoura corre solta. É um mau-cheiro forte que invade nossas casas. Eu teria vergonha de ser enterrada aqui", revelou a moradora.Dentro do local, há montanhas de lixo e muitos insetos circulando. Algumas covas que ficam no chão estão encobertas pelo matagal. Outras sepulturas estão totalmente depredadas. As tampas estão quebradas, afundando ou faltando pedaços. Uma delas está coberta com um pedaço de madeira.
Próximo a quadra H, há um túmulo totalmente destruído. A lateral está completamente aberta e é possível ver a ossada de quem foi enterrado exposta. Ao lado, outro está destampado.
Outro problema encontrado é o acúmulo de lixo no Campo Santo. Não só restos de mato, de caixões, flores e sacos plásticos ficam jogados. Há muito lixo residencial. Moradores do entorno, afirmam que ossadas são despejadas junto ao lixo comum do lugar e que nenhum controle disto é feito, e que também, há sumiço de restos mortais.
O cemitério da Solidão, como é conhecido, sempre teve carência de investimentos municipais e tem gerado transtornos para famílias que tem seus parentes sepultados.
Administração nega abandono
A administração do espaço informou que reconhece os problemas, mas, que o local não está abandonado. O administrador do cemitério, Antônio Alves, disse que o maior problema é o mato que cobre as sepulturas. "Não vamos negar, até porque se pode ver. Porém, é preciso levar em conta que o solo do cemitério é muito fértil e com as chuvas de janeiro, o crescimento do mato acaba ficando acelerado. Minha equipe, mesmo pequena, tem tentado amenizar o problema. Mas, não estamos conseguindo trabalhar preventivamente por conta do alto número de sepultamentos que há aqui. Temos pessoas capinando o tempo todo", revelou.
O local possui 13 mil metros quadrados e é cheio de altos e baixos. Uma média de 170 sepultamentos são realizados por mês. O cemitério da solidão tem, no total, uma equipe de 25 funcionários, que se revezam para dar conta da demanda de serviços.
Quanto a questão do lixo, Antônio disse todo dia é espaço é capinado e limpo na medida do possível. "Nós limpamos e juntamos o lixo próximo ao portão anexo para facilitar o trabalho de retirada. Só que o caminhão não passa todo dia, há uma escala, assim como nos bairros. O que atrapalha é que a vizinhança também despeja muito saco de lixo aqui e nós não podemos ficar confrontando com eles o tempo todo. É preciso consciência de ambas as partes".
Ossadas e sumiço de cadáveres
Segundo Antônio, os corpos depois de enterrados, não podem ser exumados em menos de 3 anos, o que é previsto em lei. Quando a família sepulta seu ente ela assina um papel, com data marcada para a exumação ser realizada. Se os parentes voltam no prazo estipulado, os restos dos corpos, são depositados em gavetas destinadas para tal e devidamente identificadas, mas, se os mesmos não procurarem o cemitério, as ossadas são mantidas na sepulturas por mais 30 dias. Se mesmo, depois da prorrogação, nenhum responsável aparecer para exumar o corpo, os restos são reunidos em um depositário. "Nenhum osso sai daqui", frisou ele.
No que tange as salmouras, desmentindo os vizinhos do cemitério, Antônio ainda ressaltou que nas gavetas há um sistema de escoamento para o líquido que sai dos corpos e que nada fica vazando, apenas, o cheiro que não dá para controlar.
Famílias são as responsáveis
A administração também chamou a atenção para os casos dos túmulos particulares. "Há muitas sepulturas particulares, cuja família é responsável pela manutenção. Muitas dessas são as que estão mais prejudicadas, mas, nós não podemos fazer nada. Por exemplo, se colocar uma tampa nova, um familiar pode nos acusar de violação de sepultura, o que é crime. Logo eles procuram a delegacia. Se a propriedade é deles, cabe a eles o cuidado com os restos mortais de seus parentes. Nós apenas os guardamos aqui, mas, a responsabilidade não é nossa".
Antônio revelou que tem sentido do novo governo municipal uma vontade de melhorar o cemitério municipal e que diversas medidas já estão sendo tomadas, para que ao poucos, o espaço seja revitalizado. A equipe da Secretaria Municipal de Serviços Públicos, responsável pela administração do espaço, já manifestou vontade de realizar o recadastramento dos donos de sepulturas, dos quais, a maioria está inadimplente. Assim como, realizar um recapeamento do local.
O atual administrador também falou de pequenas medidas, que ele e sua equipe, estão tomando para melhorar o espaço. "Nós fabricamos as tampas e as cruzes que ficam nas covas, assim elas não quebram tão facilmente. As identificamos com cores diferentes para se saber se o corpo sepultado é do sexo masculino ou feminino, ou se precisa permanecer enterrado por mais um ano, quando não ocorre a decomposição correta. Numa parceria com a equipe de epimidemiologia fizemos drenos nos vasos de flores para não ter focos de mosquito da dengue. De pouco em pouco vamos mudando", concluiu ele.
Fonte: Jornal Hoje